segunda-feira, 4 de julho de 2011

LEMBRANÇAS

Sentada na grama ainda úmida de orvalho, Marisa observava a queda d'água, o vôo dos pássaros nos ipês floridos, os coqueiros, os cisnes no lago.
 Recordava as brincadeiras pelo campo, o galope dos cavalos, o cheirinho do café torrado na hora, a garapa, o leite morninho no estábulo, o queijo fresco, pão quentinho saído do forno de barro, a linguiça pura, a água de poço. Que saudade do doce de banana vermelhinho feito no tacho de cobre! E o doce de leite?
 As lembranças levaram Marisa às lágrimas.
 Sentou-se no balanço amarrado na jaqueira e ouviu sua própria voz de criança: "Balança mais alto, mais forte, mais..." Quando se deu conta, estava balançando como nos tempos de menina. Parou o balanço, enxugou as lágrimas e subiu os degraus, um a um, bem devagar para ter a sensação que ao chegar na varanda iria encontrar seus pais, irmãos, marido, filhos.
 Não, eles não estavam lá. A mesa posta pela criada tinha arrumação apenas para uma pessoa: ela.
 Os pais falecidos, os irmãos casados, residiam fora do país; o marido a abandonara para viver com uma mulher bem mais jovem; os filhos estudavam na Europa.
 Estava completamente só.
 Olha a mesa, respira fundo e tenta engolir com lágrimas as lembranças de um passado que, infelizmente, não volta mais.

                                                                                                        Martha Moreira